O Morro do Moreno, um dos principais cartões-postais de Vila Velha, está passando por um processo de urbanização que promete transformar a experiência dos visitantes e ampliar o potencial turístico da cidade. As obras, porém, têm gerado polêmica, dividido opiniões e provocado embates entre a prefeitura, ambientalistas e a família proprietária de parte da área.
O investimento total é estimado em R$ 14,8 milhões, fruto de convênio entre o Governo do Estado e o município. A intervenção deve modificar significativamente o acesso e a infraestrutura do morro, que hoje é um dos pontos mais procurados para trilhas, prática esportiva e contemplação.
O que está previsto na obra
O projeto apresentado pela Prefeitura de Vila Velha inclui:
- Pavimentação de cerca de 730 metros da via principal de subida;
- Construção de pórtico, guarita e centro de recepção;
- Implantação de estacionamento, sanitários e depósito;
- Iluminação pública em LED;
- Criação de dois mirantes, área de playground e espaço para restaurante;
- Requalificação paisagística e melhorias de segurança.
Segundo a administração municipal, o objetivo é organizar o fluxo de visitantes, melhorar as condições de acesso e valorizar um dos pontos turísticos mais emblemáticos da cidade. O prefeito Arnaldinho Borgo declarou, em ocasiões anteriores, que a urbanização pretende “unir preservação, beleza e estrutura”, tornando o Morro do Moreno mais acessível e seguro para visitantes de todas as idades.
O local foi interditado temporariamente em novembro de 2025 e deve permanecer fechado até o segundo semestre de 2026, período em que as intervenções serão realizadas.
As críticas e as preocupações
Apesar da promessa de modernização, o projeto tem sido alvo de críticas de ambientalistas, moradores e da família Aguiar, que detém parte da área do morro e mantém uma disputa judicial com a prefeitura.
Questões ambientais
Entidades de preservação apontam impactos sobre a Mata Atlântica presente no local, que é classificada como Monumento Natural. Críticos temem que a urbanização, ao incluir novos equipamentos e ampliar o fluxo de pessoas, possa provocar:
- descaracterização da paisagem natural;
- aumento de erosões e danos às trilhas;
- risco à fauna e flora nativas;
- pressão turística excessiva.
Disputa de propriedade
A família proprietária afirma que não foi consultada formalmente sobre o projeto e questiona a ocupação de áreas particulares para execução das obras. O caso já chegou ao Judiciário, que deve decidir sobre os limites de intervenção e responsabilidade do município.
Uso e gestão do espaço
Outra preocupação recorrente é a falta de clareza sobre como será feita a gestão do morro após a obra. Moradores e frequentadores questionam:
- haverá cobrança de ingresso?
- quem administrará o estacionamento e os mirantes?
- como será o controle de visitantes?
- o local continuará acessível para práticas esportivas como trilha e escalada?
Durante o período de fechamento, grupos que utilizavam o morro para exercícios e lazer reclamam da perda temporária do espaço.
Os argumentos favoráveis
Do lado favorável, governo e prefeitura sustentam que as obras são necessárias para:
- garantir maior segurança aos visitantes;
- organizar o acesso, hoje considerado irregular e perigoso;
- valorizar o turismo de forma sustentável;
- ampliar a economia local com novos serviços;
- prevenir acidentes em áreas de grande circulação.
Segundo a administração municipal, a intervenção é planejada para minimizar impactos ambientais e manter a essência do morro como área natural.
Equilíbrio entre natureza e desenvolvimento
O debate sobre o Morro do Moreno expõe um dilema comum em grandes cidades litorâneas: como ampliar o turismo e melhorar a infraestrutura sem comprometer áreas naturais e sem afastar a comunidade que tradicionalmente utiliza o espaço.
A obra avança, mas a discussão segue intensa — e os próximos capítulos dependerão tanto da evolução das obras quanto das decisões judiciais envolvendo o território.







